quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Queridoos Leitorees...

Estou trabalhando em um romance, que narra a história de um adolescente em meio a crises de identidade e conflitos internos. Fala um pouco sobre como os jovens atuais tem muitas vezes mudado sua identidade para agradar a um grupo de amigos, ou encaixar-se em uma sociedade. Escrevo mais sobre os pensamentos do personagem, sobre o que se passa em sua mente e como ela é afetada pelo que acontece ao seu redor...
Akie o Primeiro Capítuloo praaa vcs :)

Havia sido uma tarde quente, porém ventilava, via as árvores balançarem enquanto caminhava sozinho em direção à minha casa, na escola, nada de mais acontecera, havia sido um dia substancialmente normal. A noite já mostrava seus primeiros sinais, via os pássaros voarem para seus ninhos, em busca de repouso, e eu apenas caminhava, sem pressa.
Enquanto caminhava, pensava sobre o que estava fazendo da minha juventude, pensava no que de bom estava realizando, refletia principalmente, sobre que felicidades eu pudera sentir nos últimos meses, e o que encontrava era totalmente devastador. Não via em minha vida, algo de que eu pudesse realmente me orgulhar, algo que tivesse feito de minha própria vontade, algo que me fizera sorrir, e como isso me entristecia. Tentava todos os dias, amenizar a dor que sentia em saber, que na maioria das vezes, eu agia como um boneco programado à obediência, que em raras vezes pensava em meu próprio bem, em fazer algo que me aprazia, chegava a um ponto em que me via sufocado em meus pensamentos, que me corroíam, dilaceravam, matando-me pouco a pouco.
A ausência de alguém que me ouvisse, em que eu pudesse confiar, sabendo que meus maiores temores, minhas dificuldades e meus erros, ficariam guardados e no fim ouviria uma palavra de incentivo, de uma pessoa que me amasse de verdade, era constante. E nos momentos de maiores inseguranças, via-me só.
Meus avós sempre diziam: ‘’ Filho, você não pode reclamar de sua família, tens tudo o que queres, enquanto nós, na sua idade, passávamos fome, não possuíamos sequer um brinquedo, ou mesmo uma boa escola onde estudar. Você tem tudo isso meu filho, valorize!” Eu ficava pensando... Talvez isso fosse verdade, realmente, eu tinha tudo o que um adolescente podia querer possuir, na infância tive ótimos brinquedos, estudava nas melhores escolas da cidade e fora criado com uma educação impecável, mas haviam coisas mais importantes do que bens materiais para mim, preferia receber um abraço carinhoso de meu pai, a saber que ele me dá os presentes que eu quero por que me ama. Pra mim o pouco que entendia sobre o amor, era mais do que tudo que meus pais faziam, e, na grande maioria das vezes, não me sentia nem um pouco amado por eles. Nesses momentos, trancado em meu quarto, quando não chorava, deitava-me e lia, tentando me esvair deste mundo que era tão difícil pra mim transportando-me para uma nova vida... e isso me fazia um grande bem.
Finalmente cheguei à minha casa, e como estava tranqüila nesse dia, apenas conseguia escutar o cantar dos pássaros ao entardecer, sobrevoando sobre as árvores de nosso jardim. Isso me trazia paz, e sonhava em um dia poder ser livre como aqueles pássaros, indo pra onde o vento levasse, sem preocupações ou receios, apenas cantando e deixando minha alegria transbordar e contagiar as outras pessoas. Parecia-me tão difícil ser feliz!
À noite, deitado em minha cama escrevia em meu blog anonimamente meus pensamentos, minhas dificuldades e tristezas, assim como minhas tão raras e desejadas felicidades. Estavam ali guardados os meus temores, as tantas palavras que deveriam ser direcionadas a ouvidos, viam-se trancadas no silêncio das páginas do meu blog.

“ Ah! As vezes me pego pensando e vejo o quanto tenho sido inútil! Todos os dias, levanto-me e vou deitar-me com o mesmo peso nas costas. Vejo em meu futuro, um velhinho curvo, e ranzinza, corroído de dores e angústias, e isso me dói na alma. Eu realmente não desejo isso pra mim, mas infelizmente é isso que tem-me reservado o futuro.
Sempre ouço falar que nosso amanhã depende muito do que fazemos hoje. Temo. Já não sei que direção seguir em busca de um novo amanhã. Vejo-me perdido em meio às dificuldades, com as forças de uma criança lutando sozinha pela sobrevivência. Inutilmente.
Minha vida... Já não sei o que pensar dela, tudo me parece tão insignificante, que às vezes penso que melhor seria se eu não tivesse chegado a esse mundo, se eu não tivesse a oportunidade de respirar, de ter uma família, ou que, ainda que o tivesse que fosse uma vida diferente. Tão jovem, e tão cheio de tristezas, meus pensamentos se afundam em um mar de lágrimas, que brotam do fundo de minha alma, dilacerando todas as esperanças de uma vida repleta de felicidades que já não consigo enxergar, tão turvos estão meus olhos...”

Á noite, deitado no silêncio do meu quarto, chorei, como um bebê desesperado e sozinho, e ao cair das lágrimas em meu rosto, via-me perdido. Sem um rumo, sem uma direção a seguir. Pensei . “O que faz um adolescente sem amigos? Com sonhos e utopias, mas sem coragem e nem oportunidades pra seguir em frente ? Será que apenas afunda-se em uma ilusão do que podia ser sua vida? Drogas? Não ! definitivamente, não quero drogas, vejo que muitos jovens têm enganado-se achando que nelas encontram-se todas as soluções para seu problemas. Sinceramente, não quero percorrer um caminho sem volta, e que acima de tudo não solucionará meus dilemas, apenas amenizá-los-á por pouco período de tempo, o que é o mesmo que nada. Também não quero dependência, quero ser livre, viver sem necessitar de algo ou alguém para alcançar meus objetivos. Quero voar sem sair do chão, quero sonhar, sonhos sem explicação, quero ousar, errar, mas viver e no final olhar pra trás e ter a certeza de que fui feliz !“ Sim, era exatamente isso que ansiava meu coração. Para muitos, algo não tão difícil, mas para mim quase impossível.
Nesta noite, não consegui dormir, as lágrimas, após um tempo cessaram, talvez por que tivessem se esgotado, talvez por que o meu choro, não ia acabar com tudo o que estava passando e houvesse percebido que aquelas lágrimas estavam sendo em vão. Diferente delas, os pensamentos sobre minha vida não deixavam minha mente, descobri naquele dia, o significado de muitas atitudes covardes minhas, das quais eu realmente havia me envergonhado, como a primeira vez que gostei de uma garota, me via tão ligado a ela e criava em mim um Universo só nosso, em que não haviam desilusões. Meus cadernos eram cheios de desenhos nossos, e em todas as páginas haviam seu nome gravado, rodeado de corações e juras de amor, demonstrando o quanto ela era importante pra mim. Acreditava realmente que Júlia podia um dia olhar para mim e dizer que me amava, da mesma forma que todas as noites, ao escrever meus pensamentos em meu caderno, concluía dizendo: ‘Júlia , eu amo você!’. Mas não fora isso que realmente aconteceu, tentei me aproximar dela, ultrapassando pela primeira vez as barreiras de minha timidez, e o que ouvi, em vez de palavras de amor, e correspondência aos meus sentimentos, risos. Ela simplesmente me esnobava. Foi nesse dia que decidi, nunca mais amar mulher alguma. E tantas outras vezes, em que uma menina chegava perto de mim, tentando demonstrar algum sentimento, da mesma forma de Júlia, eu simplesmente esnobava-as, assim descontando nelas a raiva que sentia pelo que me acontecera no passado, via agora, que elas assim como eu, não mereciam tais atitudes, eu estava agindo como um menino tolo, não ligando pros seus sentimentos e deixando-as machucadas, como eu. Percebia agora, tantas coisas das quais eu me arrependia, atitudes e palavras impensadas que dirigia as pessoas que me cercavam, simplesmente pelo rancor que sentia dentro de mim por tudo aquilo que me era privado.
Sentia-me o garoto mais covarde e insensível do mundo, orgulhoso e egoísta, havia passado boa parte da minha vida olhando pro meu próprio nariz, importando-me apenas com aquilo que fazia parte do meu mundo, hipócrita. Eu era detestável!
“ Muitas vezes, seja por ingenuidade ou por hipocrisia, acabamos criando um Universo individual, nos isolando de todas as outras pessoas. Talvez por medo, ou timidez, mas na maioria das vezes , por puro egoísmo.
O egoísmo toma o ser humano de tal forma, que nos sentimos cegos, e acreditamos mesmo que somos boas pessoas. Insensatos, olhamos apenas para nós mesmos. Hoje me caíram as vendas dos olhos, me vejo como um ser horrível, não aquele maculado e bondoso, obediente e cuidadoso que meus pais enxergavam em mim, mas um garoto egoísta, que só pensa em seu próprio bem, covarde, insignificante, um verdadeiro inseto. Hoje dou razão as famosas palavras do filósofo : “Só sei que nada sei “. Eu estufava o peito, acreditando ser muito inteligente, enquanto estava me afundando em minha própria burrice. Aprendi hoje que há um grande abismo entre lutar por meus ideais e sonhos, e viver em função da concretização deles, pois talvez a realização desse segundo por toda a minha juventude me fez o que hoje sou.”

Pensei um pouco sobre o que havia escrito ali. Lembrei-me que a poucas horas atrás, voltando da escola, via-me como alguém que não fazia nada para meu próprio bem, apenas agradando meus pais. Vi-me dividido entre duas personalidades, uma, aquela que vivia com minha família, sempre obediente, nunca expondo minhas opiniões, nunca demonstrando minhas vontades, apenas obedecendo, um verdadeiro robô. Outra, aquela que morava da porta de casa pra fora, que não ligava pros sentimentos alheios, que buscava sempre a própria felicidade, um orgulhoso e egoísta, um caráter superficial, criado para surpreender as outras pessoas e esconder aquilo que realmente era, um simples garoto, inseguro, medroso, covarde. Envergonhava-me de mim mesmo, realmente, nas minhas personalidades, não havia nada que me agradasse, eu simplesmente criara dois personagens opostos a mim mesmo, o eu verdadeiro era esse que estava despontando agora, ao analisar minhas atitudes vergonhosas.
Sentia-me só, sabia que na maior parte das vezes, as pessoas se agradavam de meus atos, se agradavam do personagem que eu criei,e isso significava que o meu verdadeiro eu seria desagradável para os outros, não sabia mais de que forma agir. Mais precisava agora pensar em minha felicidade verdadeira, aquela que nem sendo duas personagens consegui desfrutar.
Decidi naquele dia, pelo menos tentar mudar, tentar fazer as coisas segundo a vontade de meu eu verdadeiro, queria ser feliz de verdade, ainda que me custasse perder muitas coisas.
Vi o sol levantar-se no horizonte, ofuscando-me a visão, já acostumada com o escuro do meu quarto. Era como se as lágrimas derramadas estivessem lavando-me a alma, e agora, o calor do sol, ativava ainda mais as minhas vontades, meu desejo incessante por uma mudança.
Levantei-me e fiquei da janela, apenas observando, no jardim, os pássaros ainda mais felizes do que no entardecer anterior, cantando e bailando em um eterno voar por entre as árvores, era encantador, e ali eu simplesmente sorria, transbordando de uma felicidade que eu nem mesmo sabia explicar, e já nem conseguia me segurar. Enquanto isso, vaguei por um sonho acordado, em que eu me via caminhando por uma cidade azul, de braços abertos e sempre sorrindo, no meu caminhar, chegavam pessoas e me abraçavam, conversavam comigo, e eu nem mesmo sabia quem eram, mas me pareciam muito felizes. Ao conversarmos, tinha a impressão de que todos me conheciam muito bem, e isso me deixava intrigado. Não conseguia compreender como alguém podia me conhecer tão bem, se eu nem ao menos sabia seus nomes. Mas apesar disso tudo e de todas as surpresas que encontrava ao virar a cada esquina, eu era alguém muito feliz por está ali e por tudo que me acontecia . De repente, me assustei, e voltei ao mundo real, havia um passarinho pousado em minha mão que repousava sobre o parapeito da janela, percebi nesse instante, que não havia cessado de sorrir durante todo esse tempo, e, agora, minha mãe estava atrás de mim, me observando.
“Parecia um homem apaixonado” disse ela mais tarde. Talvez sim, mas não sabia se eu queria me sentir assim, afinal, não estava apaixonado. Mas preferia que ela me olhasse como um garoto normal, então não questionei.
- Em que mundo meu bebezinho estava viajando em?
- Por um Universo em que eu conseguia ser feliz! – respondi eu sem nem mesmo pensar, e ainda suspirando. Voltei-me para minha mãe e pude perceber seu ar de espanto. Não havia conseguindo hesitar, pensei alto demais, mas fui eu por um momento, e não podia negar que isso me trazia uma pontinha de satisfação.
- E por um acaso, meu bebezinho não é feliz no nosso mundo?
- Deixa pra lá, quem se importa com isso agora mãe!
- Eu me importo meu bebê...
- Ah! Pára de me chamar de bebê, não sou mais assim. – tentei mudar de assunto.
- Pois saiba meu filho, que eu me importo e sempre me importarei com sua felicidade, e se este mundo não estiver lhe proporcionando isso, eu mesma cuidarei para que isso mude.
- Ah! Não precisa, seu bebezinho aqui pode conseguir isso sozinho.
Ela simplesmente sorriu, e como o fazia lindamente, tinha passado tão superficialmente pela vida, que havia deixado de desfrutar de coisas simples assim. Geralmente as pessoas passam pela vida, esperando que algo de extraordinário aconteça para que sintam que vivem realmente, quando são momentos simples assim, não pensados, não ensaiados, não supostos que nos trazem a uma felicidade verdadeira, aquela que passamos a vida toda procurando e mais tarde ao olharmos pra trás percebemos que éramos felizes e não sabíamos.
Senti-me um pouco ensoberbecido, tinha como mãe uma mulher linda, carinhosa, e que agora sim, sabia que me amava, só agora podia ter certeza daquilo que tanto me atordoava, o amor. Senti-me por um momento, completo, podia gritar pro mundo que eu era sim amado, e pela pessoa mais linda que se podia imaginar. Como um abraço tão forte e confortador suas palavras tomaram conta de meu corpo e me protegiam , como sabia eu, só uma mãe conseguia fazer, apenas conseguia sorrir, deixando que meu corpo desse as respostas ao que minha alma estava sentindo.
Minha mãe apenas observava-me, virei-me e pude perceber seu olhar perdido, no horizonte. Tentei descobrir por onde sua mente vagueava, não consegui nem supor. Conhecia-a tão pouco, apesar de tantos anos de convivência. Como necessitava de sua amizade, desse amor que por um instante sentia tão perto de mim. Entristecia-me pensar que eu não era aquele filho que ela tanto amava, o menininho obediente que ela se enaltecia em ter, talvez até o fosse, porém não com todas as qualidades desejadas, afinal , para minha mãe eu era ‘O menino Perfeito’, e eu bem sabia que isso não era verdade, eu nem chegava ao mínimo de perfeição, digamos que o que eu podia possuir nem chegava a chamar-se por esse nome. Perfeição é uma palavra por vezes usada de modo errôneo, na minha vida, tenho certeza de que nunca conheci algo ou alguém que pudesse se dizer perfeito, mas as pessoas insistem em empobrecer-la de tal forma que já não se pode ter um sentido completo do que seja verdadeiramente perfeição, tal coisa talvez nem exista. Eu definitivamente não podia ser perfeito, ainda que em muitos momentos de minha vida eu tivesse sentido orgulho de ouvir tal elogio.
Depois de um tempo minha mãe despertou de seu sonho acordado e desceu para seu quarto, Não disse uma palavra a mais, somente suspirou e saiu andando, vi seu sorriso desfazer-se rapidamente e fiquei tentando imaginar o que lhe viera à mente naquele momento , inutilmente, eu realmente não a conhecia. Desci para tomar o café da manhã, naquele dia, como vinha acontecendo freqüentemente, sentei à mesa sozinho, e comi calado, apenas refletindo no que mudaria na minha vida dali em diante, descobri que praticamente tudo deveria ser mudado, e queria começar logo. De súbito levantei e fui para o meu quarto tomar um banho, tentar aliviar minha mente que tanto fervia nas últimas horas, passei minutos maravilhosos sentindo a água morna tocar-me a face, já não queria sair dali, era um dos momentos que eu me via só comigo mesmo, com o Igor, aquele mesmo, frágil, covarde, medroso, sozinho ...sempre sozinho, e nesses momentos eu pensava bastante, sonhava bastante, tanto que nem via o tempo passar.
De repente assustei-me com o barulho de batidas na porta, era minha mãe apressando-me para sair, por que iríamos visitar minha avó.
Fiquei feliz, ela era a única pessoa com que eu podia me mostrar verdadeiramente, só ela conhecia meus maiores defeitos, meus medos, e tudo aquilo que não me deixava quieto, achava espetacular quando conversava com ela, deixava fluir tudo o que havia dentro de mim e no final, em vez de ela me castigar, ou dizer que eu precisava mudar ela apenas sorria e dizia:
- Paciência meu filho, paciência, uma virtude que poucos têm e que você necessita adquirir, não se preocupe, você vai conseguir.
Eu adorava ouvir isso, sabia que ela acreditava em mim, mesmo sabendo o ser horrível que eu era, ás vezes não entendia e passava horas tentando desvendar o significado dessas palavras, mas apesar de não entender, ela me fazia acreditar que eu era sim capaz, ainda com todos meus defeitos, eu podia ser alguém bom.
Tudo o que eu mais precisava agora era ouvir minha avó, e ela precisava ouvir-me também, ouvir que eu queria mais que nunca mudar agora, e que tinha percebido tudo o que havia de errado em mim, e já não agüentava mais ser tal ser, queria mudar, e precisava dela pra isso.

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"Escrevo o que estou sentindo, e é nesse instante que tenho a certeza de que não sou eu quem doma as palavras, são elas que buscam a minha emoção, são elas que têm dominante razão. Certeiras, esguias, os traços que me trazem a calma
não conheço outra forma de ser escritor, se não com a alma"
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(Adriana N. Amaral)