quinta-feira, 3 de dezembro de 2009


Escrever na adolescência não é fácil... os pensamentos e sentimentos estão estão a mil, a nossa cabecinha parece sempre prestes a explodir ... alegria, tristeza, raiva, carinho, paixão, tédio.. tudo ao mesmo tempo ... Colocar cada um desses sentimentos no papel e criar personagens duradouros e interessantes torna-se uma tarefa quase impossível, isso sem levar em conta o mundo de outras coisas que podemos fazer para "aproveitar" o nosso tempo, que sempre parece tão curto nessa época da vida... Os jovens atualmente se vêem em meio a tantos caminhos "chamativos", " interessantes", que o universo Maravilhoso da Leitura torna-se para muitos uma escolha de último caso, por ser enfadonho, cansativo, chato... Tolos, não percebem o imenso e maravilhoso mundo que estão a perder... esse mundinho em que tudo torna-se real, basta que imaginemos e acreditemos, um mundo onde podemos ir do mais remoto passado ao mais estupendo futuro em apenas poucos instantes, um mundo onde podemos ser reis, rainhas, escravos ou livres, fadas, duendes, anões, um mundo onde cada um dos nossos sonhos pode-se tornar real, e onde a realidade é apenas um dos mundos, que muitas vezes acabamos por esquecer, em meio a tanta magia envolvente presente nos livros... Sábio é aquele que se aventura por esse imenso mundo, seja vivendo no universo dos livros, seja criando Universos para que outros Conheçam...

" A realidade é dolorosa e imperfeita, é essa a sua natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. Quando algo nos parece muito belo, pensamos que só pode ser um sonho e então beliscamo-nos para termos a certeza de que não estamos a sonhar - se doer é porque não estamos a sonhar. A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho.Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros " José Eduardo Agualusa

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Segundo Capítulo

A manhã na casa da minha avó fora estupenda. Como sempre acontecia, eu me diverti muito em conversar com ela. Havia momentos em que me parecia triste, mas logo o sorriso voltava e iluminava seu rosto já cansado pelos anos. Ás vezes olhava para minha mãe e via minha avó, então acreditava que podia ter com ela a mesma amizade que tinha com a vovó, mas então pensava, o quanto era difícil, minha mãe às vezes parecia impenetrável, como meu avô, já falecido, e outras vezes imensamente amigável, como minha tão amada avó, então não sabia como fazer.
Naquela manhã, eu lhe contei tudo o que havia pensado, e como tinha sido um menino mal, falei sobre as duas personalidades, e sobre todas as garotas que eu fizera sofrer, ainda sendo tão moço, minha avó ouviu tudo calmamente, ás vezes sorria, mas estava sempre calada, apenas ouvindo, sem interferir. Diferente das outras vezes, quando terminei, minha avó começou, sempre pacientemente a falar:
- Meu filho, tu és um garoto fantástico, diferente de tantas outras pessoas, consegues enxergar teus erros e tentar mudá-los, não olhando para os problemas que os outros te causaram, mas olhando pra dentro de si. Sempre te disse e agora repito, para que tu não esqueças: Tenha paciência Igor, você vai conseguir. Eu quero muito te ajudar meu querido, mas eu sei que tu precisas tentar sozinho, pois é errando que irás aprender, e eu não posso agir por ti. Não és um garoto horrível, acredite, porém tu eras muito jovem para compreender suas atitudes, agora que já as entende só tu tens o poder para tornar teus desejos realidades, por isso não desista nunca, e tenha paciência, tu vais conseguir, eu tenho certeza.
Não foi bem o que eu esperava, mais ainda assim senti uma enorme alegria em saber que minha avó realmente acreditava em mim e sabia do que eu era capaz ainda com todas as minhas falhas, me sentia até orgulhoso em saber que era, pelo menos para ela, um garoto fantástico, e eu nem sabia se acreditava nisso, mas em uma coisa tinha certeza que ela estava certa, eu sabia enxergar meus erros e tentar mudar, diferente de muitas outras pessoas. Nessa hora, eu pensei em Larissa, uma garota da minha escola, muito bonita, mas extremamente vulgar e orgulhosa, adorava pôr todas as pessoas pra baixo, e colocava-se em um pedestal, acreditava que todos os garotos da escola a admiravam por sua visível beleza, mas eu tinha certeza que não era assim, eu, por exemplo, esnobava-a, chegava a sentir raiva dela, pela forma com que tratava as pessoas, apesar de eu muitas vezes ter agido da mesma forma, mesmo que involuntariamente, ela sempre culpava a todos por seus problemas, se acreditava perfeita, agora me lembrando dela, cheguei a sentir pena, queria que ela enxergasse seus erros, como eu os enxergo, antes que fosse tarde demais.
Sorri para minha avó, demonstrando satisfação, Prometi-lhe naquele dia que ainda que me custasse a vida, ou a minha própria satisfação (o que ela me garantiu que não, alegando que não se pode ser infeliz quando se é quem é) eu pelo menos tentaria com todas as minhas forças ser um bom garoto, ser eu mesmo .
Depois de conversarmos muito sobre mim, decidi pela primeira vez perguntar sobre a vida dela, sobre como ela se sentia hoje, e ela me contou poucas coisas, disse que a vida não tinha sido muito boa com ela na infância e na juventude, mas agora, na velhice, ela sentia-se realizada, por ter filhos e netos maravilhosos, declarou o amor e a saudade que sentia de seu velho (meu avô), falou-me que apesar de ele ser muitas vezes taciturno e insociável, sempre calado, como eu era ás vezes em casa, era ele que tinha escolhido para ser seu esposo, pra sempre, mas infelizmente, Deus o havia tirado de seu lado muito cedo, dizia ela, e ela não podia reclamar, afinal, meu avô sofria muito com a doença que o levou a óbito e já nem lembrava-se antes de morrer, do grande amor que tinham um pelo outro, de modo que ela vivia praticamente sozinha.
Minha avó era uma mulher muito sábia, gostava muito de ler, dizia-me que os livros a levavam para um mundo além daquele, e ela sentia-se feliz por isso, eles a faziam sentir-se menos sozinha. Nisso eu me parecia com ela, também lia para me desligar desse mundo e encontrar um bom lugar para viver. Na verdade eu vivia praticamente em um livro, uma vez que eu vivia como dois personagens, era o vilão e o mocinho da minha própria história. Sorri ao pensar nisso, infelizmente minha vida não era um livro, se assim o fosse eu poderia arrancar as páginas escritas para escrever uma nova história, uma história real, a minha verdadeira história.
Fiquei tão absorto em meus pensamentos, que nem mais ouvi minha avó falar, quando enfim voltei a mim, vi-a chorar, e me senti culpado, ela estava abrindo seu coração pra mim e eu nem a ouvira. Apenas pude abraçá-la sem dizer nada. Quem era eu?O que eu sabia para falar algo a minha avó, mulher tão vivida, e tão sábia? Definitivamente era melhor me calar.
Almoçamos com ela e depois saímos, eu tinha que ir á escola naquele dia, caso contrário ficaria lá mesmo, pois havia achado minha avó muito fraca e temia deixá-la só, amava-a demais , não queria e nem podia perde-la, ela era a única pessoa em quem eu podia confiar e me apoiar nas dificuldades.
Na escola,não consegui concentrar-me, pensava a todo momento no que deveria fazer, pensava em minha avó, em meus pais, na minha solidão. Pensava em quanto minha vida mudaria se eu tivesse um amigo, da minha idade pelo menos, com quem eu pudesse conversar, passar o tempo. Minha avó era minha amiga, mas nos víamos muito raramente, e mesmo que eu não quisesse enxergar, sabia que ela não viveria por muito tempo, eu lhe era muito grato e sabia que ainda que eu fosse amigo de toda a minha classe, ou de toda a minha escola, ninguém conseguiria substituí-la, nenhum daqueles jovens, nem eles todos juntos alcançariam a sabedoria que minha avó tinha e conseguia me transmitir. Mas ainda assim, eu queria alguém para compartilhar erros e acertos, pra aprendermos juntos, por que minha avó já era perfeita.
Cheguei em casa e fui direto para o computador, descarregar meus pensamentos no blog, pois minha cabeça doía de tanto que havia pensado naquele dia. “ Sinto-me feliz hoje, sei que tenho um caminho novo a percorrer, e agora tenho minhas forças recarregadas para seguir em frente, vou prosseguir e sei que não me arrependerei de ter ousado. Estou tentando ser eu mesmo. Ainda tenho medos, ainda sou covarde, sei que não vou mudar de uma hora pra outra, isso é algo gradativo, mas pelo menos estou tentando. Queria que minha vida fosse um livro, seria bem mais fácil, eu simplesmente destruiria todas as folhas e a partir de hoje começaria uma nova história, a minha verdadeira história, mas infelizmente não será tão fácil assim. Preciso de forças, preciso de amigos que me ajudem, não será fácil conseguir sozinho, mas eu acredito, com paciência eu vou conseguir, tenho certeza.”
Parecia que eu escrevia ali mais para me fazer acreditar em minhas próprias palavras, e isso em parte era verdade, queria mesmo crer que eu iria conseguir mudar, como minha avó acreditava em mim, mas não era fácil.
Em poucos minutos, alguém deixou um comentário dizendo assim:
“ Eu sei o que você sente, também tenho decisões a tomar, e sinto-me só , não sei o que fazer, mas obrigado, por me fazer também acreditar que eu sou capaz de conseguir qualquer coisa.”

Eu nem acreditei, seria isso real? Como que com meus problemas eu podia ajudar alguém? Só podia ser engano, definitivamente, eu precisava dizer pra essa pessoa que ela havia se enganado, eu não fizera nada por ela, apenas tinha escrito aquilo que eu sentia. Nem tinha a intenção de ajudar alguém. Era a primeira vez que isso acontecia, as pessoas geralmente visitavam meu blog, liam o que havia escrito e diziam coisas para me ajudar, eu era o necessitado em toda a história, e agora eu sentia uma pontinha de satisfação em saber que eu era em algo útil, isso pelo menos significava que as coisas estavam mudando, e pelo jeito, para melhor. Sorri, realmente minha avó tinha razão, eu conseguiria... Se as coisas continuassem como estavam é certo que eu conseguiria. Desliguei o computador e deitei na cama, tentando organizar minhas idéias, nada estava no lugar e eu não conseguiria deixar tudo perfeito tão fácil. Sorri. Comecei a olhar meu quarto, tentando gravar aquilo, pra sempre, cada detalhe do que estava acontecendo na minha vida. Meu quarto era um lugar aconchegante, do meu jeito, havia ali na minha escrivaninha, muitos livros, prateleiras repletas de brinquedos dos meus tempos de infância. Minha cama ficava bem ao lado da escrivaninha, e as prateleiras rodeavam todo o quarto, em frente á minha cama, havia uma porta que levava ao banheiro, e ao lado a porta de entrada pro meu quarto. Aquele lugar me lembrava tantas coisas. Olhei para a janela em que outro dia ficara encostado. Ela ficava de frente para o jardim da minha casa. Era um sonho olhar dali, e sempre que o fazia eram momentos inesquecíveis. Vivi praticamente toda a minha vida trancado naquele lugar, minhas lágrimas, meus sorrisos, minhas dores, minhas viagens em pensamentos, tudo... Se aquelas paredes falassem... Sorri novamente, então me levantei, peguei um livro e comecei a ler.
“O pequeno príncipe” era o título, eu o havia ganhado de minha avó logo que aprendi a ler, mas agora nem me lembrava do que se tratava, ele havia se perdido no meio de tantos outros que eu adquirira com o tempo.
Aquela era uma linda história, mostrava a simplicidade e autenticidade que só as crianças puras podem ter, aquela inocência que poucos sabem admirar, e que por muitas vezes é desprezada por adultos que não vêem a realidade por traz de cada dúvida, e acabam destruindo essa inocência que é tão bela e rara ultimamente. Senti vontade de voltar a ser criança, e aproveitar tudo o que o mundo podia me oferecer nesta época da minha vida, voltar àquela inocência e não errar outra vez, mas fazer tudo diferente, queria ser uma criança como aquela, amar as pequenas coisas da vida, cativar pessoas, pra sempre, e tornar-me eternamente responsável por elas, como sentia-me responsável por minha avó, ela era a minha flor, única pra mim, e eu queria ser seu pequeno príncipe, pra sempre... se tivesse entendido o significado de cada palavra daquele livro ainda na minha infância, logo que aprendi a ler, talvez hoje minha história seria diferente, mas infelizmente o homem não aprendeu a prever o futuro, naquela época aquilo era apenas mais uma historinha, como um conto de fadas, e de nada valeram pra mim, infelizmente.
Fiquei um tempo refletindo sobre tudo o que acabara de ler, sempre fazia isso, era uma forma de guardar as histórias na minha mente e tirar delas lições para mim, algumas dessas histórias, apesar de todo o esforço que fazia para guardá-las, haviam-se perdido em minhas lembranças, outras, como esta que acabara de ler, tornavam-se um propulsor para a maioria das minhas atitudes, mudavam minha vida. De alguma forma que eu não sabia explicar, aquele livro encaixara-se perfeitamente no momento que eu estava vivendo, era como se ele estivesse destinado a mim, e agora, ao refletir, tive a certeza de que mesmo que eu o tivesse lido todos os dias da minha infância e juventude, ele não teria tornado-se tão importante para mim, como aconteceu.
Fui novamente para o computador, reler cada postagem minha no blog, relembrar um pouco. Meus olhos foram direcionados logo para uma frase que dizia assim: ”Sempre ouço falar que nosso amanhã depende muito do que fazemos hoje.” Sorri, isso era uma realidade que muitas pessoas não compreendiam, pensei no livro, e de como ele fora direcionado tão perfeitamente a mim naquele dia, lembrei do dia em que minha avó o me presenteou, naquela época, nem eu nem ela, nem ninguém saberia dizer em que eu me tornaria na adolescência, mais ela plantou uma semente que depois de muito tempo trouxe resultado. O que ela fizera naquele dia, mudaria meu amanhã, que agora era meu hoje, e que seria refletido sempre, em meus próximos amanhãs. Ai! Que complicação! Ás vezes eu pensava que não era normal, pensava cada coisa, que chegava a dar um nó em minha mente. Sinceramente, eu estava certo, nunca fui um garoto normal, nem em meus sonhos, nem em minhas viagens em pensamentos eu era normal. Talvez isso até fosse bom, ser normal é tão normal. Sorri. Terminei de ler todas as postagens e resolvi tentar escrever o que estava sentindo. Eis o que saiu:
“Minha vida é engraçada, tanto que ás vezes nem eu mesmo a entendo, talvez isso seja bom, talvez não. É engraçado como as coisas acontecem, seguindo um roteiro que alguém ou algo que eu nem conheço escreveu, traçando caminhos pra mim que antes eu desconhecia, e agora que conheço, me surpreendem. Isso é algo estranho, chego a sentir raiva, e ás vezes felicidade, por que esse alguém me fez viver tantas coisas difíceis, me fez ser alguém que não queria ser, mas também me fez conhecer pessoas boas... é estranho não controlar a própria vida, mas é bom, afinal isso pode significar que não sou eu o único culpado pelo que me tornei, ou talvez sim, se esse alguém não existir. É tudo tão complicado e esquisito! Nosso amanhã depende muito do que fazemos hoje. Se isso é verdade, eu sou o único responsável por tudo o que me tornei, e isso é ruim, mas também sou responsável e está em minhas mãos decidir que serei no futuro, e isso é bom, por que dá-me a liberdade de decidir quem serei, o que não teria se alguém governasse minha vida. Pensando bem, é melhor eu me responsabilizar por tudo, caso contrário eu não sei o que faria com quem fosse o mentor da minha vida (risos) . Apesar de todas as complicações e dificuldades que já passei e que está registrado aqui, hoje sinto-me feliz, não resolvi nem o menor dos meus problemas, mas sei que sou capaz, por que alguém acreditou em mim. Mas eu preciso ter paciência. Preciso. Necessito. É indispensável pra mim...
Obs: Não liguem pra mim, eu não sou normal.
Realmente, eu parecia feliz, ou tentava ser, ou acreditar que era. Sei lá. Nem eu sabia o que havia em meu coração. Deitei novamente em minha cama e fiquei a pensar. Adormeci. Fora uma noite sem sonhos. Acordei na manhã seguinte, sem disposição pra nada, tomei banho e desci para o café. Estranhamente, naquela manhã meus pais estavam à mesa, conversavam sobre algo, e logo que me sentei eles calaram-se e assim ficamos nós três durante todo o café da manhã. Não entendia o porquê de eu nunca conseguir conversar por muito tempo com meus pais. Parecíamos mais três estranhos morando sob um mesmo teto do que uma família, isso era uma das coisas que muito me doíam, eu sinceramente queria ser amigo, ser um filho de verdade pra eles, mas parecia que havia uma barreira que me impossibilitava de chegar perto. E o pior é que eu sabia que tinha contribuído bastante para que esta barreira fosse construída. Depois que saí da mesa, deitei-me no sofá e ali fiquei por um bom tempo, pensando. Despertei quando meu pai me chamou, lá de dentro do seu quarto.
- Meu filho, pode me ajudar com isso?
Ele tentava afastar o guarda-roupa para pegar algo que havia caído lá atrás.
- Sim, é claro!
Afastamos o objeto e ele pegou de lá alguns papéis. Soprou sobre eles para tirar a poeira e me entregou. Eu não entendi nada. O que seria aquilo?
Meu pai percebeu meu ar de dúvida e disse:
- Filho, isso é muito importante pra mim, e sei que será muito importante pra você, mas, por favor, não leia agora.
- Mas e quando eu leio? – perguntei ainda cheio de dúvidas.
- Você saberá o momento certo, talvez quando estiveres muito triste, ou muito feliz. Você saberá.
- Tudo bem então. Obrigado. – Saí do quarto sem dizer mais nada, e sem entender aquilo menos ainda, mais eu não era capaz de desobedecer meu pai, e ele tampouco o merecia, afinal, ele não era tão mal assim, eu contribuía bastante para que ele se tornasse o que era pra mim, um verdadeiro estranho. Entrei em meu quarto e coloquei aqueles papéis dentro da última gaveta da escrivaninha. Seria difícil não lê-los, mas decerto eu tentaria.


-> Leiam e comentem...
Tbm preciso de sugestões quanto ao título do Livro
:)
Abraços
Agny Tayná

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Queridoos Leitorees...

Estou trabalhando em um romance, que narra a história de um adolescente em meio a crises de identidade e conflitos internos. Fala um pouco sobre como os jovens atuais tem muitas vezes mudado sua identidade para agradar a um grupo de amigos, ou encaixar-se em uma sociedade. Escrevo mais sobre os pensamentos do personagem, sobre o que se passa em sua mente e como ela é afetada pelo que acontece ao seu redor...
Akie o Primeiro Capítuloo praaa vcs :)

Havia sido uma tarde quente, porém ventilava, via as árvores balançarem enquanto caminhava sozinho em direção à minha casa, na escola, nada de mais acontecera, havia sido um dia substancialmente normal. A noite já mostrava seus primeiros sinais, via os pássaros voarem para seus ninhos, em busca de repouso, e eu apenas caminhava, sem pressa.
Enquanto caminhava, pensava sobre o que estava fazendo da minha juventude, pensava no que de bom estava realizando, refletia principalmente, sobre que felicidades eu pudera sentir nos últimos meses, e o que encontrava era totalmente devastador. Não via em minha vida, algo de que eu pudesse realmente me orgulhar, algo que tivesse feito de minha própria vontade, algo que me fizera sorrir, e como isso me entristecia. Tentava todos os dias, amenizar a dor que sentia em saber, que na maioria das vezes, eu agia como um boneco programado à obediência, que em raras vezes pensava em meu próprio bem, em fazer algo que me aprazia, chegava a um ponto em que me via sufocado em meus pensamentos, que me corroíam, dilaceravam, matando-me pouco a pouco.
A ausência de alguém que me ouvisse, em que eu pudesse confiar, sabendo que meus maiores temores, minhas dificuldades e meus erros, ficariam guardados e no fim ouviria uma palavra de incentivo, de uma pessoa que me amasse de verdade, era constante. E nos momentos de maiores inseguranças, via-me só.
Meus avós sempre diziam: ‘’ Filho, você não pode reclamar de sua família, tens tudo o que queres, enquanto nós, na sua idade, passávamos fome, não possuíamos sequer um brinquedo, ou mesmo uma boa escola onde estudar. Você tem tudo isso meu filho, valorize!” Eu ficava pensando... Talvez isso fosse verdade, realmente, eu tinha tudo o que um adolescente podia querer possuir, na infância tive ótimos brinquedos, estudava nas melhores escolas da cidade e fora criado com uma educação impecável, mas haviam coisas mais importantes do que bens materiais para mim, preferia receber um abraço carinhoso de meu pai, a saber que ele me dá os presentes que eu quero por que me ama. Pra mim o pouco que entendia sobre o amor, era mais do que tudo que meus pais faziam, e, na grande maioria das vezes, não me sentia nem um pouco amado por eles. Nesses momentos, trancado em meu quarto, quando não chorava, deitava-me e lia, tentando me esvair deste mundo que era tão difícil pra mim transportando-me para uma nova vida... e isso me fazia um grande bem.
Finalmente cheguei à minha casa, e como estava tranqüila nesse dia, apenas conseguia escutar o cantar dos pássaros ao entardecer, sobrevoando sobre as árvores de nosso jardim. Isso me trazia paz, e sonhava em um dia poder ser livre como aqueles pássaros, indo pra onde o vento levasse, sem preocupações ou receios, apenas cantando e deixando minha alegria transbordar e contagiar as outras pessoas. Parecia-me tão difícil ser feliz!
À noite, deitado em minha cama escrevia em meu blog anonimamente meus pensamentos, minhas dificuldades e tristezas, assim como minhas tão raras e desejadas felicidades. Estavam ali guardados os meus temores, as tantas palavras que deveriam ser direcionadas a ouvidos, viam-se trancadas no silêncio das páginas do meu blog.

“ Ah! As vezes me pego pensando e vejo o quanto tenho sido inútil! Todos os dias, levanto-me e vou deitar-me com o mesmo peso nas costas. Vejo em meu futuro, um velhinho curvo, e ranzinza, corroído de dores e angústias, e isso me dói na alma. Eu realmente não desejo isso pra mim, mas infelizmente é isso que tem-me reservado o futuro.
Sempre ouço falar que nosso amanhã depende muito do que fazemos hoje. Temo. Já não sei que direção seguir em busca de um novo amanhã. Vejo-me perdido em meio às dificuldades, com as forças de uma criança lutando sozinha pela sobrevivência. Inutilmente.
Minha vida... Já não sei o que pensar dela, tudo me parece tão insignificante, que às vezes penso que melhor seria se eu não tivesse chegado a esse mundo, se eu não tivesse a oportunidade de respirar, de ter uma família, ou que, ainda que o tivesse que fosse uma vida diferente. Tão jovem, e tão cheio de tristezas, meus pensamentos se afundam em um mar de lágrimas, que brotam do fundo de minha alma, dilacerando todas as esperanças de uma vida repleta de felicidades que já não consigo enxergar, tão turvos estão meus olhos...”

Á noite, deitado no silêncio do meu quarto, chorei, como um bebê desesperado e sozinho, e ao cair das lágrimas em meu rosto, via-me perdido. Sem um rumo, sem uma direção a seguir. Pensei . “O que faz um adolescente sem amigos? Com sonhos e utopias, mas sem coragem e nem oportunidades pra seguir em frente ? Será que apenas afunda-se em uma ilusão do que podia ser sua vida? Drogas? Não ! definitivamente, não quero drogas, vejo que muitos jovens têm enganado-se achando que nelas encontram-se todas as soluções para seu problemas. Sinceramente, não quero percorrer um caminho sem volta, e que acima de tudo não solucionará meus dilemas, apenas amenizá-los-á por pouco período de tempo, o que é o mesmo que nada. Também não quero dependência, quero ser livre, viver sem necessitar de algo ou alguém para alcançar meus objetivos. Quero voar sem sair do chão, quero sonhar, sonhos sem explicação, quero ousar, errar, mas viver e no final olhar pra trás e ter a certeza de que fui feliz !“ Sim, era exatamente isso que ansiava meu coração. Para muitos, algo não tão difícil, mas para mim quase impossível.
Nesta noite, não consegui dormir, as lágrimas, após um tempo cessaram, talvez por que tivessem se esgotado, talvez por que o meu choro, não ia acabar com tudo o que estava passando e houvesse percebido que aquelas lágrimas estavam sendo em vão. Diferente delas, os pensamentos sobre minha vida não deixavam minha mente, descobri naquele dia, o significado de muitas atitudes covardes minhas, das quais eu realmente havia me envergonhado, como a primeira vez que gostei de uma garota, me via tão ligado a ela e criava em mim um Universo só nosso, em que não haviam desilusões. Meus cadernos eram cheios de desenhos nossos, e em todas as páginas haviam seu nome gravado, rodeado de corações e juras de amor, demonstrando o quanto ela era importante pra mim. Acreditava realmente que Júlia podia um dia olhar para mim e dizer que me amava, da mesma forma que todas as noites, ao escrever meus pensamentos em meu caderno, concluía dizendo: ‘Júlia , eu amo você!’. Mas não fora isso que realmente aconteceu, tentei me aproximar dela, ultrapassando pela primeira vez as barreiras de minha timidez, e o que ouvi, em vez de palavras de amor, e correspondência aos meus sentimentos, risos. Ela simplesmente me esnobava. Foi nesse dia que decidi, nunca mais amar mulher alguma. E tantas outras vezes, em que uma menina chegava perto de mim, tentando demonstrar algum sentimento, da mesma forma de Júlia, eu simplesmente esnobava-as, assim descontando nelas a raiva que sentia pelo que me acontecera no passado, via agora, que elas assim como eu, não mereciam tais atitudes, eu estava agindo como um menino tolo, não ligando pros seus sentimentos e deixando-as machucadas, como eu. Percebia agora, tantas coisas das quais eu me arrependia, atitudes e palavras impensadas que dirigia as pessoas que me cercavam, simplesmente pelo rancor que sentia dentro de mim por tudo aquilo que me era privado.
Sentia-me o garoto mais covarde e insensível do mundo, orgulhoso e egoísta, havia passado boa parte da minha vida olhando pro meu próprio nariz, importando-me apenas com aquilo que fazia parte do meu mundo, hipócrita. Eu era detestável!
“ Muitas vezes, seja por ingenuidade ou por hipocrisia, acabamos criando um Universo individual, nos isolando de todas as outras pessoas. Talvez por medo, ou timidez, mas na maioria das vezes , por puro egoísmo.
O egoísmo toma o ser humano de tal forma, que nos sentimos cegos, e acreditamos mesmo que somos boas pessoas. Insensatos, olhamos apenas para nós mesmos. Hoje me caíram as vendas dos olhos, me vejo como um ser horrível, não aquele maculado e bondoso, obediente e cuidadoso que meus pais enxergavam em mim, mas um garoto egoísta, que só pensa em seu próprio bem, covarde, insignificante, um verdadeiro inseto. Hoje dou razão as famosas palavras do filósofo : “Só sei que nada sei “. Eu estufava o peito, acreditando ser muito inteligente, enquanto estava me afundando em minha própria burrice. Aprendi hoje que há um grande abismo entre lutar por meus ideais e sonhos, e viver em função da concretização deles, pois talvez a realização desse segundo por toda a minha juventude me fez o que hoje sou.”

Pensei um pouco sobre o que havia escrito ali. Lembrei-me que a poucas horas atrás, voltando da escola, via-me como alguém que não fazia nada para meu próprio bem, apenas agradando meus pais. Vi-me dividido entre duas personalidades, uma, aquela que vivia com minha família, sempre obediente, nunca expondo minhas opiniões, nunca demonstrando minhas vontades, apenas obedecendo, um verdadeiro robô. Outra, aquela que morava da porta de casa pra fora, que não ligava pros sentimentos alheios, que buscava sempre a própria felicidade, um orgulhoso e egoísta, um caráter superficial, criado para surpreender as outras pessoas e esconder aquilo que realmente era, um simples garoto, inseguro, medroso, covarde. Envergonhava-me de mim mesmo, realmente, nas minhas personalidades, não havia nada que me agradasse, eu simplesmente criara dois personagens opostos a mim mesmo, o eu verdadeiro era esse que estava despontando agora, ao analisar minhas atitudes vergonhosas.
Sentia-me só, sabia que na maior parte das vezes, as pessoas se agradavam de meus atos, se agradavam do personagem que eu criei,e isso significava que o meu verdadeiro eu seria desagradável para os outros, não sabia mais de que forma agir. Mais precisava agora pensar em minha felicidade verdadeira, aquela que nem sendo duas personagens consegui desfrutar.
Decidi naquele dia, pelo menos tentar mudar, tentar fazer as coisas segundo a vontade de meu eu verdadeiro, queria ser feliz de verdade, ainda que me custasse perder muitas coisas.
Vi o sol levantar-se no horizonte, ofuscando-me a visão, já acostumada com o escuro do meu quarto. Era como se as lágrimas derramadas estivessem lavando-me a alma, e agora, o calor do sol, ativava ainda mais as minhas vontades, meu desejo incessante por uma mudança.
Levantei-me e fiquei da janela, apenas observando, no jardim, os pássaros ainda mais felizes do que no entardecer anterior, cantando e bailando em um eterno voar por entre as árvores, era encantador, e ali eu simplesmente sorria, transbordando de uma felicidade que eu nem mesmo sabia explicar, e já nem conseguia me segurar. Enquanto isso, vaguei por um sonho acordado, em que eu me via caminhando por uma cidade azul, de braços abertos e sempre sorrindo, no meu caminhar, chegavam pessoas e me abraçavam, conversavam comigo, e eu nem mesmo sabia quem eram, mas me pareciam muito felizes. Ao conversarmos, tinha a impressão de que todos me conheciam muito bem, e isso me deixava intrigado. Não conseguia compreender como alguém podia me conhecer tão bem, se eu nem ao menos sabia seus nomes. Mas apesar disso tudo e de todas as surpresas que encontrava ao virar a cada esquina, eu era alguém muito feliz por está ali e por tudo que me acontecia . De repente, me assustei, e voltei ao mundo real, havia um passarinho pousado em minha mão que repousava sobre o parapeito da janela, percebi nesse instante, que não havia cessado de sorrir durante todo esse tempo, e, agora, minha mãe estava atrás de mim, me observando.
“Parecia um homem apaixonado” disse ela mais tarde. Talvez sim, mas não sabia se eu queria me sentir assim, afinal, não estava apaixonado. Mas preferia que ela me olhasse como um garoto normal, então não questionei.
- Em que mundo meu bebezinho estava viajando em?
- Por um Universo em que eu conseguia ser feliz! – respondi eu sem nem mesmo pensar, e ainda suspirando. Voltei-me para minha mãe e pude perceber seu ar de espanto. Não havia conseguindo hesitar, pensei alto demais, mas fui eu por um momento, e não podia negar que isso me trazia uma pontinha de satisfação.
- E por um acaso, meu bebezinho não é feliz no nosso mundo?
- Deixa pra lá, quem se importa com isso agora mãe!
- Eu me importo meu bebê...
- Ah! Pára de me chamar de bebê, não sou mais assim. – tentei mudar de assunto.
- Pois saiba meu filho, que eu me importo e sempre me importarei com sua felicidade, e se este mundo não estiver lhe proporcionando isso, eu mesma cuidarei para que isso mude.
- Ah! Não precisa, seu bebezinho aqui pode conseguir isso sozinho.
Ela simplesmente sorriu, e como o fazia lindamente, tinha passado tão superficialmente pela vida, que havia deixado de desfrutar de coisas simples assim. Geralmente as pessoas passam pela vida, esperando que algo de extraordinário aconteça para que sintam que vivem realmente, quando são momentos simples assim, não pensados, não ensaiados, não supostos que nos trazem a uma felicidade verdadeira, aquela que passamos a vida toda procurando e mais tarde ao olharmos pra trás percebemos que éramos felizes e não sabíamos.
Senti-me um pouco ensoberbecido, tinha como mãe uma mulher linda, carinhosa, e que agora sim, sabia que me amava, só agora podia ter certeza daquilo que tanto me atordoava, o amor. Senti-me por um momento, completo, podia gritar pro mundo que eu era sim amado, e pela pessoa mais linda que se podia imaginar. Como um abraço tão forte e confortador suas palavras tomaram conta de meu corpo e me protegiam , como sabia eu, só uma mãe conseguia fazer, apenas conseguia sorrir, deixando que meu corpo desse as respostas ao que minha alma estava sentindo.
Minha mãe apenas observava-me, virei-me e pude perceber seu olhar perdido, no horizonte. Tentei descobrir por onde sua mente vagueava, não consegui nem supor. Conhecia-a tão pouco, apesar de tantos anos de convivência. Como necessitava de sua amizade, desse amor que por um instante sentia tão perto de mim. Entristecia-me pensar que eu não era aquele filho que ela tanto amava, o menininho obediente que ela se enaltecia em ter, talvez até o fosse, porém não com todas as qualidades desejadas, afinal , para minha mãe eu era ‘O menino Perfeito’, e eu bem sabia que isso não era verdade, eu nem chegava ao mínimo de perfeição, digamos que o que eu podia possuir nem chegava a chamar-se por esse nome. Perfeição é uma palavra por vezes usada de modo errôneo, na minha vida, tenho certeza de que nunca conheci algo ou alguém que pudesse se dizer perfeito, mas as pessoas insistem em empobrecer-la de tal forma que já não se pode ter um sentido completo do que seja verdadeiramente perfeição, tal coisa talvez nem exista. Eu definitivamente não podia ser perfeito, ainda que em muitos momentos de minha vida eu tivesse sentido orgulho de ouvir tal elogio.
Depois de um tempo minha mãe despertou de seu sonho acordado e desceu para seu quarto, Não disse uma palavra a mais, somente suspirou e saiu andando, vi seu sorriso desfazer-se rapidamente e fiquei tentando imaginar o que lhe viera à mente naquele momento , inutilmente, eu realmente não a conhecia. Desci para tomar o café da manhã, naquele dia, como vinha acontecendo freqüentemente, sentei à mesa sozinho, e comi calado, apenas refletindo no que mudaria na minha vida dali em diante, descobri que praticamente tudo deveria ser mudado, e queria começar logo. De súbito levantei e fui para o meu quarto tomar um banho, tentar aliviar minha mente que tanto fervia nas últimas horas, passei minutos maravilhosos sentindo a água morna tocar-me a face, já não queria sair dali, era um dos momentos que eu me via só comigo mesmo, com o Igor, aquele mesmo, frágil, covarde, medroso, sozinho ...sempre sozinho, e nesses momentos eu pensava bastante, sonhava bastante, tanto que nem via o tempo passar.
De repente assustei-me com o barulho de batidas na porta, era minha mãe apressando-me para sair, por que iríamos visitar minha avó.
Fiquei feliz, ela era a única pessoa com que eu podia me mostrar verdadeiramente, só ela conhecia meus maiores defeitos, meus medos, e tudo aquilo que não me deixava quieto, achava espetacular quando conversava com ela, deixava fluir tudo o que havia dentro de mim e no final, em vez de ela me castigar, ou dizer que eu precisava mudar ela apenas sorria e dizia:
- Paciência meu filho, paciência, uma virtude que poucos têm e que você necessita adquirir, não se preocupe, você vai conseguir.
Eu adorava ouvir isso, sabia que ela acreditava em mim, mesmo sabendo o ser horrível que eu era, ás vezes não entendia e passava horas tentando desvendar o significado dessas palavras, mas apesar de não entender, ela me fazia acreditar que eu era sim capaz, ainda com todos meus defeitos, eu podia ser alguém bom.
Tudo o que eu mais precisava agora era ouvir minha avó, e ela precisava ouvir-me também, ouvir que eu queria mais que nunca mudar agora, e que tinha percebido tudo o que havia de errado em mim, e já não agüentava mais ser tal ser, queria mudar, e precisava dela pra isso.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Posso dizer que apenas
Sou uma estudante alegre
Cercada por pessoas
Por lemas
Mas tenho muito mais a dizer
Sou uma garota feliz
Uma eterna aprendiz
Da vida
Do meu viver
Estou atrás do saber
E quero sempre aprender
Conhecer do amor a beleza
Da vida, a pureza.
A alegria eu quero conhecer
Para tê-la no coração
E mostrar a essa nação
Que a tristeza eu vou vencer

By: Agny Tayná
"Escrevo o que estou sentindo, e é nesse instante que tenho a certeza de que não sou eu quem doma as palavras, são elas que buscam a minha emoção, são elas que têm dominante razão. Certeiras, esguias, os traços que me trazem a calma
não conheço outra forma de ser escritor, se não com a alma"
-
(Adriana N. Amaral)