quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Segundo Capítulo

A manhã na casa da minha avó fora estupenda. Como sempre acontecia, eu me diverti muito em conversar com ela. Havia momentos em que me parecia triste, mas logo o sorriso voltava e iluminava seu rosto já cansado pelos anos. Ás vezes olhava para minha mãe e via minha avó, então acreditava que podia ter com ela a mesma amizade que tinha com a vovó, mas então pensava, o quanto era difícil, minha mãe às vezes parecia impenetrável, como meu avô, já falecido, e outras vezes imensamente amigável, como minha tão amada avó, então não sabia como fazer.
Naquela manhã, eu lhe contei tudo o que havia pensado, e como tinha sido um menino mal, falei sobre as duas personalidades, e sobre todas as garotas que eu fizera sofrer, ainda sendo tão moço, minha avó ouviu tudo calmamente, ás vezes sorria, mas estava sempre calada, apenas ouvindo, sem interferir. Diferente das outras vezes, quando terminei, minha avó começou, sempre pacientemente a falar:
- Meu filho, tu és um garoto fantástico, diferente de tantas outras pessoas, consegues enxergar teus erros e tentar mudá-los, não olhando para os problemas que os outros te causaram, mas olhando pra dentro de si. Sempre te disse e agora repito, para que tu não esqueças: Tenha paciência Igor, você vai conseguir. Eu quero muito te ajudar meu querido, mas eu sei que tu precisas tentar sozinho, pois é errando que irás aprender, e eu não posso agir por ti. Não és um garoto horrível, acredite, porém tu eras muito jovem para compreender suas atitudes, agora que já as entende só tu tens o poder para tornar teus desejos realidades, por isso não desista nunca, e tenha paciência, tu vais conseguir, eu tenho certeza.
Não foi bem o que eu esperava, mais ainda assim senti uma enorme alegria em saber que minha avó realmente acreditava em mim e sabia do que eu era capaz ainda com todas as minhas falhas, me sentia até orgulhoso em saber que era, pelo menos para ela, um garoto fantástico, e eu nem sabia se acreditava nisso, mas em uma coisa tinha certeza que ela estava certa, eu sabia enxergar meus erros e tentar mudar, diferente de muitas outras pessoas. Nessa hora, eu pensei em Larissa, uma garota da minha escola, muito bonita, mas extremamente vulgar e orgulhosa, adorava pôr todas as pessoas pra baixo, e colocava-se em um pedestal, acreditava que todos os garotos da escola a admiravam por sua visível beleza, mas eu tinha certeza que não era assim, eu, por exemplo, esnobava-a, chegava a sentir raiva dela, pela forma com que tratava as pessoas, apesar de eu muitas vezes ter agido da mesma forma, mesmo que involuntariamente, ela sempre culpava a todos por seus problemas, se acreditava perfeita, agora me lembrando dela, cheguei a sentir pena, queria que ela enxergasse seus erros, como eu os enxergo, antes que fosse tarde demais.
Sorri para minha avó, demonstrando satisfação, Prometi-lhe naquele dia que ainda que me custasse a vida, ou a minha própria satisfação (o que ela me garantiu que não, alegando que não se pode ser infeliz quando se é quem é) eu pelo menos tentaria com todas as minhas forças ser um bom garoto, ser eu mesmo .
Depois de conversarmos muito sobre mim, decidi pela primeira vez perguntar sobre a vida dela, sobre como ela se sentia hoje, e ela me contou poucas coisas, disse que a vida não tinha sido muito boa com ela na infância e na juventude, mas agora, na velhice, ela sentia-se realizada, por ter filhos e netos maravilhosos, declarou o amor e a saudade que sentia de seu velho (meu avô), falou-me que apesar de ele ser muitas vezes taciturno e insociável, sempre calado, como eu era ás vezes em casa, era ele que tinha escolhido para ser seu esposo, pra sempre, mas infelizmente, Deus o havia tirado de seu lado muito cedo, dizia ela, e ela não podia reclamar, afinal, meu avô sofria muito com a doença que o levou a óbito e já nem lembrava-se antes de morrer, do grande amor que tinham um pelo outro, de modo que ela vivia praticamente sozinha.
Minha avó era uma mulher muito sábia, gostava muito de ler, dizia-me que os livros a levavam para um mundo além daquele, e ela sentia-se feliz por isso, eles a faziam sentir-se menos sozinha. Nisso eu me parecia com ela, também lia para me desligar desse mundo e encontrar um bom lugar para viver. Na verdade eu vivia praticamente em um livro, uma vez que eu vivia como dois personagens, era o vilão e o mocinho da minha própria história. Sorri ao pensar nisso, infelizmente minha vida não era um livro, se assim o fosse eu poderia arrancar as páginas escritas para escrever uma nova história, uma história real, a minha verdadeira história.
Fiquei tão absorto em meus pensamentos, que nem mais ouvi minha avó falar, quando enfim voltei a mim, vi-a chorar, e me senti culpado, ela estava abrindo seu coração pra mim e eu nem a ouvira. Apenas pude abraçá-la sem dizer nada. Quem era eu?O que eu sabia para falar algo a minha avó, mulher tão vivida, e tão sábia? Definitivamente era melhor me calar.
Almoçamos com ela e depois saímos, eu tinha que ir á escola naquele dia, caso contrário ficaria lá mesmo, pois havia achado minha avó muito fraca e temia deixá-la só, amava-a demais , não queria e nem podia perde-la, ela era a única pessoa em quem eu podia confiar e me apoiar nas dificuldades.
Na escola,não consegui concentrar-me, pensava a todo momento no que deveria fazer, pensava em minha avó, em meus pais, na minha solidão. Pensava em quanto minha vida mudaria se eu tivesse um amigo, da minha idade pelo menos, com quem eu pudesse conversar, passar o tempo. Minha avó era minha amiga, mas nos víamos muito raramente, e mesmo que eu não quisesse enxergar, sabia que ela não viveria por muito tempo, eu lhe era muito grato e sabia que ainda que eu fosse amigo de toda a minha classe, ou de toda a minha escola, ninguém conseguiria substituí-la, nenhum daqueles jovens, nem eles todos juntos alcançariam a sabedoria que minha avó tinha e conseguia me transmitir. Mas ainda assim, eu queria alguém para compartilhar erros e acertos, pra aprendermos juntos, por que minha avó já era perfeita.
Cheguei em casa e fui direto para o computador, descarregar meus pensamentos no blog, pois minha cabeça doía de tanto que havia pensado naquele dia. “ Sinto-me feliz hoje, sei que tenho um caminho novo a percorrer, e agora tenho minhas forças recarregadas para seguir em frente, vou prosseguir e sei que não me arrependerei de ter ousado. Estou tentando ser eu mesmo. Ainda tenho medos, ainda sou covarde, sei que não vou mudar de uma hora pra outra, isso é algo gradativo, mas pelo menos estou tentando. Queria que minha vida fosse um livro, seria bem mais fácil, eu simplesmente destruiria todas as folhas e a partir de hoje começaria uma nova história, a minha verdadeira história, mas infelizmente não será tão fácil assim. Preciso de forças, preciso de amigos que me ajudem, não será fácil conseguir sozinho, mas eu acredito, com paciência eu vou conseguir, tenho certeza.”
Parecia que eu escrevia ali mais para me fazer acreditar em minhas próprias palavras, e isso em parte era verdade, queria mesmo crer que eu iria conseguir mudar, como minha avó acreditava em mim, mas não era fácil.
Em poucos minutos, alguém deixou um comentário dizendo assim:
“ Eu sei o que você sente, também tenho decisões a tomar, e sinto-me só , não sei o que fazer, mas obrigado, por me fazer também acreditar que eu sou capaz de conseguir qualquer coisa.”

Eu nem acreditei, seria isso real? Como que com meus problemas eu podia ajudar alguém? Só podia ser engano, definitivamente, eu precisava dizer pra essa pessoa que ela havia se enganado, eu não fizera nada por ela, apenas tinha escrito aquilo que eu sentia. Nem tinha a intenção de ajudar alguém. Era a primeira vez que isso acontecia, as pessoas geralmente visitavam meu blog, liam o que havia escrito e diziam coisas para me ajudar, eu era o necessitado em toda a história, e agora eu sentia uma pontinha de satisfação em saber que eu era em algo útil, isso pelo menos significava que as coisas estavam mudando, e pelo jeito, para melhor. Sorri, realmente minha avó tinha razão, eu conseguiria... Se as coisas continuassem como estavam é certo que eu conseguiria. Desliguei o computador e deitei na cama, tentando organizar minhas idéias, nada estava no lugar e eu não conseguiria deixar tudo perfeito tão fácil. Sorri. Comecei a olhar meu quarto, tentando gravar aquilo, pra sempre, cada detalhe do que estava acontecendo na minha vida. Meu quarto era um lugar aconchegante, do meu jeito, havia ali na minha escrivaninha, muitos livros, prateleiras repletas de brinquedos dos meus tempos de infância. Minha cama ficava bem ao lado da escrivaninha, e as prateleiras rodeavam todo o quarto, em frente á minha cama, havia uma porta que levava ao banheiro, e ao lado a porta de entrada pro meu quarto. Aquele lugar me lembrava tantas coisas. Olhei para a janela em que outro dia ficara encostado. Ela ficava de frente para o jardim da minha casa. Era um sonho olhar dali, e sempre que o fazia eram momentos inesquecíveis. Vivi praticamente toda a minha vida trancado naquele lugar, minhas lágrimas, meus sorrisos, minhas dores, minhas viagens em pensamentos, tudo... Se aquelas paredes falassem... Sorri novamente, então me levantei, peguei um livro e comecei a ler.
“O pequeno príncipe” era o título, eu o havia ganhado de minha avó logo que aprendi a ler, mas agora nem me lembrava do que se tratava, ele havia se perdido no meio de tantos outros que eu adquirira com o tempo.
Aquela era uma linda história, mostrava a simplicidade e autenticidade que só as crianças puras podem ter, aquela inocência que poucos sabem admirar, e que por muitas vezes é desprezada por adultos que não vêem a realidade por traz de cada dúvida, e acabam destruindo essa inocência que é tão bela e rara ultimamente. Senti vontade de voltar a ser criança, e aproveitar tudo o que o mundo podia me oferecer nesta época da minha vida, voltar àquela inocência e não errar outra vez, mas fazer tudo diferente, queria ser uma criança como aquela, amar as pequenas coisas da vida, cativar pessoas, pra sempre, e tornar-me eternamente responsável por elas, como sentia-me responsável por minha avó, ela era a minha flor, única pra mim, e eu queria ser seu pequeno príncipe, pra sempre... se tivesse entendido o significado de cada palavra daquele livro ainda na minha infância, logo que aprendi a ler, talvez hoje minha história seria diferente, mas infelizmente o homem não aprendeu a prever o futuro, naquela época aquilo era apenas mais uma historinha, como um conto de fadas, e de nada valeram pra mim, infelizmente.
Fiquei um tempo refletindo sobre tudo o que acabara de ler, sempre fazia isso, era uma forma de guardar as histórias na minha mente e tirar delas lições para mim, algumas dessas histórias, apesar de todo o esforço que fazia para guardá-las, haviam-se perdido em minhas lembranças, outras, como esta que acabara de ler, tornavam-se um propulsor para a maioria das minhas atitudes, mudavam minha vida. De alguma forma que eu não sabia explicar, aquele livro encaixara-se perfeitamente no momento que eu estava vivendo, era como se ele estivesse destinado a mim, e agora, ao refletir, tive a certeza de que mesmo que eu o tivesse lido todos os dias da minha infância e juventude, ele não teria tornado-se tão importante para mim, como aconteceu.
Fui novamente para o computador, reler cada postagem minha no blog, relembrar um pouco. Meus olhos foram direcionados logo para uma frase que dizia assim: ”Sempre ouço falar que nosso amanhã depende muito do que fazemos hoje.” Sorri, isso era uma realidade que muitas pessoas não compreendiam, pensei no livro, e de como ele fora direcionado tão perfeitamente a mim naquele dia, lembrei do dia em que minha avó o me presenteou, naquela época, nem eu nem ela, nem ninguém saberia dizer em que eu me tornaria na adolescência, mais ela plantou uma semente que depois de muito tempo trouxe resultado. O que ela fizera naquele dia, mudaria meu amanhã, que agora era meu hoje, e que seria refletido sempre, em meus próximos amanhãs. Ai! Que complicação! Ás vezes eu pensava que não era normal, pensava cada coisa, que chegava a dar um nó em minha mente. Sinceramente, eu estava certo, nunca fui um garoto normal, nem em meus sonhos, nem em minhas viagens em pensamentos eu era normal. Talvez isso até fosse bom, ser normal é tão normal. Sorri. Terminei de ler todas as postagens e resolvi tentar escrever o que estava sentindo. Eis o que saiu:
“Minha vida é engraçada, tanto que ás vezes nem eu mesmo a entendo, talvez isso seja bom, talvez não. É engraçado como as coisas acontecem, seguindo um roteiro que alguém ou algo que eu nem conheço escreveu, traçando caminhos pra mim que antes eu desconhecia, e agora que conheço, me surpreendem. Isso é algo estranho, chego a sentir raiva, e ás vezes felicidade, por que esse alguém me fez viver tantas coisas difíceis, me fez ser alguém que não queria ser, mas também me fez conhecer pessoas boas... é estranho não controlar a própria vida, mas é bom, afinal isso pode significar que não sou eu o único culpado pelo que me tornei, ou talvez sim, se esse alguém não existir. É tudo tão complicado e esquisito! Nosso amanhã depende muito do que fazemos hoje. Se isso é verdade, eu sou o único responsável por tudo o que me tornei, e isso é ruim, mas também sou responsável e está em minhas mãos decidir que serei no futuro, e isso é bom, por que dá-me a liberdade de decidir quem serei, o que não teria se alguém governasse minha vida. Pensando bem, é melhor eu me responsabilizar por tudo, caso contrário eu não sei o que faria com quem fosse o mentor da minha vida (risos) . Apesar de todas as complicações e dificuldades que já passei e que está registrado aqui, hoje sinto-me feliz, não resolvi nem o menor dos meus problemas, mas sei que sou capaz, por que alguém acreditou em mim. Mas eu preciso ter paciência. Preciso. Necessito. É indispensável pra mim...
Obs: Não liguem pra mim, eu não sou normal.
Realmente, eu parecia feliz, ou tentava ser, ou acreditar que era. Sei lá. Nem eu sabia o que havia em meu coração. Deitei novamente em minha cama e fiquei a pensar. Adormeci. Fora uma noite sem sonhos. Acordei na manhã seguinte, sem disposição pra nada, tomei banho e desci para o café. Estranhamente, naquela manhã meus pais estavam à mesa, conversavam sobre algo, e logo que me sentei eles calaram-se e assim ficamos nós três durante todo o café da manhã. Não entendia o porquê de eu nunca conseguir conversar por muito tempo com meus pais. Parecíamos mais três estranhos morando sob um mesmo teto do que uma família, isso era uma das coisas que muito me doíam, eu sinceramente queria ser amigo, ser um filho de verdade pra eles, mas parecia que havia uma barreira que me impossibilitava de chegar perto. E o pior é que eu sabia que tinha contribuído bastante para que esta barreira fosse construída. Depois que saí da mesa, deitei-me no sofá e ali fiquei por um bom tempo, pensando. Despertei quando meu pai me chamou, lá de dentro do seu quarto.
- Meu filho, pode me ajudar com isso?
Ele tentava afastar o guarda-roupa para pegar algo que havia caído lá atrás.
- Sim, é claro!
Afastamos o objeto e ele pegou de lá alguns papéis. Soprou sobre eles para tirar a poeira e me entregou. Eu não entendi nada. O que seria aquilo?
Meu pai percebeu meu ar de dúvida e disse:
- Filho, isso é muito importante pra mim, e sei que será muito importante pra você, mas, por favor, não leia agora.
- Mas e quando eu leio? – perguntei ainda cheio de dúvidas.
- Você saberá o momento certo, talvez quando estiveres muito triste, ou muito feliz. Você saberá.
- Tudo bem então. Obrigado. – Saí do quarto sem dizer mais nada, e sem entender aquilo menos ainda, mais eu não era capaz de desobedecer meu pai, e ele tampouco o merecia, afinal, ele não era tão mal assim, eu contribuía bastante para que ele se tornasse o que era pra mim, um verdadeiro estranho. Entrei em meu quarto e coloquei aqueles papéis dentro da última gaveta da escrivaninha. Seria difícil não lê-los, mas decerto eu tentaria.


-> Leiam e comentem...
Tbm preciso de sugestões quanto ao título do Livro
:)
Abraços
Agny Tayná

2 comentários:

  1. Migah ....
    Amei seu livro muito interessante...
    É o que na verdade mutas vez é a realidade de Nós adolescentes...Me vi em algumas situções escritas ali...Anciosa pelo Terceiro Capitulo...
    Bjus AMU_TI

    By: Thamara Brandão

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  2. Oiie,linda..tbm gostei,bejinhooss..ah si dé adcc no kut..iran_wc@hotmail.com....bejinhoss.

    By: Yrann.

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"Escrevo o que estou sentindo, e é nesse instante que tenho a certeza de que não sou eu quem doma as palavras, são elas que buscam a minha emoção, são elas que têm dominante razão. Certeiras, esguias, os traços que me trazem a calma
não conheço outra forma de ser escritor, se não com a alma"
-
(Adriana N. Amaral)